Ao sair das trevas da noite que
a manhã
Submerge numa onda de
esperança,
despertas do torpor, enjoada de
cheiros
confluentes da vida desencantada,
que conheces bem, ao lento e
sensual
desfraldar do perfume fresco da
tua carne.
Acaricias o gato estendido no
teu regaço,
fulvo como pelúcia macia
animada de ansiosos latejos.
O aroma do café que saboreias de
olhos
meios fechados, num debruçar de
seios
em liberdade, arrebata a tua
alma,
leva-te para um campo de
cafeeiros,
num voluptuoso sonho acordado.
Corres no meio deles nua, de
boca
entreaberta, os braços
estendidos,
os poros dilatados,
colhendo as indeléveis sensações
do país
tropical que te afeiçoou o
corpo moreno
e te pôs no sangue o fogo do
amor.
Mas o relógio depressa te traz
de volta
para a solidão de Lisboa,
onde tens que enfrentar a outra
face
da vida, feroz como loba esfomeada.
Tens uma nesga de céu azul por
cima
do centro comercial, cuja
fachada
sem poesia, entre sombra e luz,
te deixa
adivinhar o cariz do dia, mais
fatigante
que a longa travessia dos
mares.
J. L. Miranda
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